01/09/2010 - Com a prisão de oito pessoas nesta quarta-feira (01), entre elas três auditores da Receita Federal lotados nos Portos de Itaguaí (dois) e do Rio (um), a Polícia Federal do Rio começou a desmontar uma quadrilha especializada em trazer para o Brasil produtos falsificados da China. Foram pedidas 24 prisões na Operação Poseidon, mas a juíza Simone Schreiber, da 7ª Vara Federal, só autorizou oito mandados.
Ao longo da investigação, em três apreensões foram recolhidas 166 toneladas de mercadoria falsificada, grande parte destinada a comerciantes de São Paulo. Os agentes federais recolheram ainda, em outubro, R$ 170 mil em espécie que serviriam como propina a um dos auditores presos na terça (31). As prisões, entretanto, não alcançaram os comerciantes que revenderiam a mercadoria nos comércios populares, notadamente na capital paulista. Os dois empresários presos - e não identificados - participavam do esquema intermediando empresas legais que emprestavam seus CNPJs para regularizar a entrada da carga ilegal pelo Porto de Itaguaí (RJ).
Os auditores - Alberto Thomaz Gonçalves, Carlos Eduardo da Costa, o Cadu, e José Marcos Castello Branco Pesce, o Zé Marco - receberiam propinas para liberarem mercadorias apreendidas. Pelo menos dois deles, Cadu e Zé Marco, dividiriam os R$ 170 mil que os federais confiscaram no centro da cidade, em fevereiro, com uma mulher identificada como Idelnice, que faria a entrega. Hoje, a reportagem tentou falar com familiares dos auditores e com o advogado de um deles, mas não conseguiu contato. Também o Sindicato dos auditores do Rio, até o início desta noite, não tinha localizado os familiares deles.
A juíza Simone Schreiber não concedeu a prisão do policial federal Antonino Vieira Rufino, que trabalhava no porto e se envolveu com a quadrilha. Ele está afastado das atividades, sendo que já foi condenado na 6ª Vara Federal, em 2008, por tráfico e associação para o tráfico. A sentença foi modificada no Tribunal Regional Federal (TRF), permanecendo a condenação por associação para o tráfico, com pena de quatro anos e seis meses de reclusão em regime semiaberto.
A investigação começou com a descoberta na rua Alexandre Vanicci Leme, em Bangu (zona oeste), em janeiro de 2009, de quatro contêineres abandonados. Eram da empresa Hamburg Sud e faziam parte de um grupo de sete contêineres deslocados por estarem sob suspeita. Ficaram 90 dias parados e depois foram retirados mediante propina de R$ 50 mil paga ao operador portuário Hudson Lessa Pereira.
A descoberta dos contêineres desvendou o esquema de desvio das mercadorias. Os intermediários - entre eles André Luiz Medeiros Machado, o Deco - mudaram o modo de agir. Com a ajuda de servidores do porto, no lugar de levarem os contêineres, retiravam as mercadorias em carros. Segundo a delegada Leila Quintanilha, havia também fraude nos leilões de mercadorias: "Anunciavam a venda de duas mil peças, mas vendiam na verdade oito mil".
A partir da apreensão, em outubro, de um contêiner com 20 toneladas, no bairro do Caju, na zona portuária do Rio, os policiais identificaram e prenderam oito pessoas, entre elas dois analistas tributários da Receita, envolvidos na liberação da carga. Na operação de hoje, além dos três auditores e dois empresários, foram presos dois despachantes e um operador portuário. A polícia cumpriu ainda 24 mandados de busca, no Rio, em Vitória (ES) e em São Paulo, onde os agentes estiveram na sede de sete empresas de despachos aduaneiros, importação e exportação e de equipamentos eletrônicos. (Marcelo Auler - AE)
Fonte: Cruzeiro do Sul
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